sexta-feira, 16 de novembro de 2007

TCC - Relato Comentado - Alessandra

RELATO COMENTADO


TEXTO I - Se um viajante numa noite de inverno
Ítalo Calvino - 1999

O autor inicia o texto como se assumisse uma terceira pessoa, preparando o leitor para a própria leitura, numa espécie de metalinguagem, estimula-o a ler o livro, sugere por meio de vários verbos e a todo momento que encontre a melhor posição para a leitura “estique as pernas, acomode os pés numa almofada”, aconselha o leitor a tomar todas as providências possíveis para que a leitura não venha a ser interrompida: “ regule a luz”, “deixe o cigarro e o cinzeiro ao alcance das mãos”, enfim, ele se lembra até do xixi, parecendo já ter intimidade com o leitor e tão sabiamente conhecedor da sua rotina, inclusive de que o leitor é uma pessoa sem muitas expectativas, no entanto que pára um momento renunciando a tantas outras coisas (citadas até mesmo neste início do livro) e se propõe a ler um livro.

Comentários
O início do texto não sugere as possíveis tramas que o título nos remete. O autor utiliza uma linguagem cotidiana, clara, no entanto requer um leitor mais experiente e que goste do estilo apresentado por ele (estilo presente em outras obras do mesmo autor), num tecer de idéias que vão se adicionando e fazendo o enredo avançar, o autor brinca com as palavras, e por meio delas, com o leitor, de maneira que ele vai sendo preparado para a leitura ao mesmo tempo em que já lê. A escolha lexical permite concluir que o leitor é uma pessoa que já possui hábitos de leitura ou que aprecia um estilo mais intelectual, ou que pelo menos ostenta em casa objetos que evidenciam a conclusão “poltrona, globo terrestre, escrivaninha, piano”. O livro de Calvino tem como finalidade emocionar, divertir, enfim, é uma leitura que brinca e estimula a fantasia. Na verdade, acredito que seja propósito do autor criar toda essa expectativa no início do texto porque sabe que atualmente são inúmeros os motivos que não nos deixam ler e a voz que aparece dando todas as instruções a serem seguidas as fazem como se generalizando todos os leitores.





TEXTO II - O Milagre Brasileiro
Boris Fausto - 1999

O texto “O milagre brasileiro” relata um período histórico entre 1969 a 1973 onde os fatores econômicos porque passavam o país nesta época foram determinantes nos rumos futuros do país, que segundo o autor, teve influências negativas.
Segundo o autor, quem esteve à frente de todo um planejamento denominado “Milagre Brasileiro” foi Delfin Neto que objetivava beneficiar-se de uma economia mundial que disponibilizava amplamente recursos financeiros, que foram injetados no Brasil (daí o aumento da dívida externa), e crescendo paralelo a ela o investimento do capital estrangeiro (indústria automobilística) expansão também do comércio exterior: importação de determinados bens para suprir o crescimento interno, principal mente o petróleo e a exportação com condições favoráveis proporcionando um aumento da capacidade de arrecadar tributos por parte do governo reduzindo o déficit público e a inflação.
O texto vai despindo com tamanha argumentação todas a etapas do projeto “miraculoso” chegando ao final sendo acrescidas às ideologias do próprio autor, momento em que faz citações a respeito das conseqüências já naquele momento e como se antecipasse um futuro, e inicia enumerando: salários de trabalhadores comprimidos, abandono dos projetos sociais pelo Estado, má qualidade de saúde, educação e habitação, fatores que segundo o autor, que medem a qualidade de vida de um povo.


Comentários
O início do texto traz como título um momento da história brasileira (1969 a 1973), no entanto um leitor sem conhecimento prévio não faria predições corretas sobre ele. O texto apresenta uma linguagem culta, utiliza linguagem específica (vocábulos) de algumas áreas do conhecimento (déficit, capitalismo, economia, inflação, o que torna o texto mais destinado a um público ligado á política, história, economia), enfim, públicos estes que utilizam informações presentes no texto para pesquisa. O autor é um historiador e por ser um ser político, mesmo lidando com fatos reais, exprime ao longo dos parágrafos ideologias próprias ou assume a voz do povo brasileiro sobre os acontecimentos “A política de Delfim tinha o propósito de fazer crescer o bolo para só depois pensar em distribuí-lo”. Ora, nas entrelinhas, o autor denuncia a façanha do projeto. Mesmo o texto sendo de uma linguagem científica, deixa em muitas palavras ou no conjunto delas dizeres em entrelinhas, isto porque o autor o constrói num viés que permeiam opiniões, mais presentes ainda quando finaliza o texto que menciona a palavra “ecologia”, que pelo contexto, estaria fora de repertório, acredito que o autor buscou chocar o leitor com um tema polêmico e que, no entanto não fazia parte dos planos do Estado, que era então guiado pelos cérebros de Delfim Neto (Ministro da Fazenda) e Emílio Garrastazu Médice (Presidente da República) naquela época.


TEXTO III - Podemos conhecer o universo? – Reflexões sobre um grão de sal
Carl Sagan - 1979

O texto aborda dentro dos seus quinze parágrafos uma reflexão acerca do conhecimento do universo, que segundo o autor, é incognoscível e para provar a tese defendida por ele, lança a todo o momento questões desafiadoras ao leitor que se resumem, de certa forma da não compreensão de todos até mesmo de um grão de sal, considerada uma das partículas menores do universo.
O autor, ao apresentar os argumentos vai utilizando fatos cotidianos que muitas vezes, segundo ele, passam despercebidos aos olhos dos leigos, o que na verdade é um fazer científico e que muitas vezes não se chega a uma explicação. Afirma ainda que, no momento em que um indivíduo pára por um instante e começa a pensar em como as coisas acontecem, este indivíduo está fazendo ciência, que a ciência seria cognoscível se todas as leis naturais tivessem o mesmo grau de regularidades, no entanto, nem todas as leis naturais podem ser compreendidas, daí que o universo passa a ser incognoscível.
Ao final do texto, o autor admite gostar de como é o Universo: um tanto já conhecido do homem e um tanto ainda por conhecer, desconhecido, e que este extraordinário equilíbrio é que sustenta o Universo ser um lugar ideal para viver.

Comentários
O texto apresenta uma linguagem científica que exige experiência do leitor para que o texto seja compreendido como tal, devido utilizar um conjunto de vocábulos próprios do tema a ser tratado, mesmo que o autor tenha utilizado uma linguagem mais acessível, além de promover uma reflexão filosófica que vai tecendo o texto de forma que um leitor sem conhecimentos prévios ou específicos não conseguiria ver no texto tão grande relevância. O autor, que era um divulgador da ciência vai provando a cada parágrafo os subtemas ao mesmo tempo em que exprime seus pontos de vista “Além de difamar os polinésios (que foram intrépidos navegadores e cujo breve descanso no paraíso está agora chegando ao fim)...“. Utiliza o verbo na primeira pessoa do plural (como se o leitor fosse testemunha, cúmplice do que o autor afirma). Cita conceitos de determinadas áreas do conhecimento: “I Guerra Mundial”, “sódio, cloro”, “rotação”, “decimal, unidade”, “velocidade da luz”, “Teoria Especial da Relatividade”, enfim, vocábulos que definem a finalidade do texto que é de levar informação (divulgação científica) e propiciar a pesquisa.
É interessante também observar que, o autor, mesmo sendo um defensor da ciência, afirma numa sutileza incomparável que o senso comum (conhecimento empírico) e a intuição não são totalmente confiáveis, assim como a ciência nem sempre encontra regularidades para explicar as leis naturais; que ao final do texto o estudioso afirma gostar do Universo como ele é: conhecido e desconhecido, que pode ser interpretado como alguém que admite ter limitações frente a algo tão grandioso. Talvez estes aspectos são alguns dos que caracterizam Carl Sagan como poucos: capacidade de cativar a imaginação de milhões e de explicar conceitos difíceis em termos compreensíveis, segundo Francisco Saiz (2000).

Um comentário:

Cid disse...

Parabéns, meninas, pelos relatos comentados. Vocês demonstraram capacidade de apreciação ética e política. Abs, Cid e Tamar.